Por que ficamos mal-humorados quando estamos com fome?

Mais do que apenas a falta de açúcar no sangue, a combinação entre a fome e a raiva pode ser uma resposta emocional complicada, de acordo com uma pesquisa publicada no periódico Emotion. Quando alguém está com fome, há duas coisas fundamentais que determinam se essa ela contribuirá para emoções negativas ou não, de acordo com Jennifer MacCormack, autora do estudo: contexto e autoconsciência.

Contexto
Os pesquisadores realizaram experimentos envolvendo mais de 400 indivíduos. Os participantes viram imagens projetadas que induziam sentimentos positivos, neutros ou negativos. Depois, um pictograma chinês foi projetado e os voluntários tiveram que classificá-lo em agradável ou desagradável. Os participantes também foram solicitados a relatar o quanto sentiam fome.
Os pesquisadores descobriram que os participantes mais famintos eram mais propensos a classificar os pictogramas chineses ambíguos como negativos, mas somente depois de primeiro serem preparados com uma imagem negativa. Não houve efeito para imagens neutras ou positivas. “A ideia aqui é que as imagens negativas forneceram um contexto para as pessoas interpretarem seus sentimentos de fome, já que os pictogramas eram desagradáveis”, disse MacCormack. “Portanto, parece haver algo de especial em situações desagradáveis que levam as pessoas a sentirem mais os sentimentos de fome do que, digamos, em situações agradáveis ou neutras.”
Autoconsciência
E não são apenas dicas ambientais que podem afetar se alguém passa da fome para a raiva, de acordo com MacCormack. O nível de consciência emocional das pessoas também é importante. Em um experimento de laboratório envolvendo mais de 200 estudantes universitários, os pesquisadores pediram aos participantes que jejuassem ou comessem antes do teste.
Depois que alguns dos alunos foram solicitados a completar um exercício de escrita destinado a direcionar seu foco em suas emoções, todos os participantes foram convidados a participar de um cenário projetado para evocar emoções negativas. Os pesquisadores descobriram que os indivíduos com fome relataram maiores emoções desagradáveis quando não estavam explicitamente concentrados em suas próprias emoções.
Os participantes que gastaram tempo pensando sobre suas emoções, mesmo quando com fome, não relataram essas mudanças nas emoções ou percepções sociais.
Você ainda pode ser você, mesmo quando está com fome
“Um comercial bem conhecido uma vez disse: ‘Você não é você quando está com fome’, mas nossos dados sugerem que simplesmente dando um passo atrás da situação atual e reconhecendo como você está se sentindo, você ainda pode ser você, mesmo quando está com fome”, disse MacCormack.
Esta pesquisa enfatiza a conexão entre mente e corpo, de acordo com MacCormack. “Nossos corpos desempenham um papel poderoso em moldar nossas experiências, percepções e comportamentos momento a momento”, diz ela. “Isso significa que é importante cuidar de nossos corpos, prestar atenção a esses sinais e não descartá-los, porque eles são importantes não apenas para a nossa saúde mental a longo prazo, mas também para a qualidade de nossa vida psicológica, experiências, relações sociais e desempenho no trabalho.”